domingo, 9 de novembro de 2008

Direto do Cabo das Tormentas


Why South Africa?

Manu Torres

Quando se decide ter um período sabático na vida, geralmente a escolha pelo lugar está interligada com algo que proporcione reflexão sobre a vida. Assim, foi minha escolha pela África do Sul. Na busca pelo melhor roteiro, me deparei com uma informação que me chamou a atenção e foi decisiva: “São reconhecidas 11 línguas oficiais”. Esta frase proporcionou me imaginar conhecendo 11 culturas diferentes, hábitos, costumes, pessoas, jeitos e trejeitos. Também tinha o interesse de vivenciar uma experiência num país que tem uma história política interessante e sentir como reflete no dia-a-dia. Dessa forma, a imagem da diversidade permaneceu na mente sem dar espaço para outro destino.

A escolha por Cape Town (Cidade do Cabo) teve várias razões. A cidade é considerada mais segura que as demais (como Jonhanesburgo e Durban), o clima é relax, há escola de línguas conceituada (para aprender inglês britânico), além de concentrar a ilha em que o Nelson Mandela ficou preso e ser o ponto extremo da África do Sul (Cabo das Tormentas). Local perfeito para atender à tríade estudo, diversão e curiosidade. Também influenciou, em parte, a minha fascinação em conhecer a tal falada “Table Mountain” (Montanha em formato de mesa). As imagens de uma cidade toda cercada por montanhas me encantava. A cidade realmente é exuberante!

Após três meses aqui, o dia-a-dia já se tornou rotina com idas à escola pela manhã.e, às vezes, à tarde. O restante do dia é reservado para o que vem pela frente como encontro com amigos, imprevistos, visitas a pontos turísticos e sempre o “olhar pelo novo”. As pessoas locais despertam a curiosidade pela vestimenta, perfil e, principalmente, os acentos do idioma. Contudo, nem sempre a aproximação é possível! Os negros não parecem gostar do contato com os brancos locais e vice-versa. Em contrapartida, sendo brasileiro a recepção é calorosa. Sendo mulher, é uma loucura para os homens! Devido ao estereótipo, pensam que somos como as mulheres durante o carnaval. Sim, ao falar do Brasil pensam em futebol, samba e mulher bonita com pouca roupa. Se bobear, basta o esboço de sorriso e já “estão em cima”. Esta recepção calorosa tem o outro lado não tão agradável. Não há como se sentir confortável e segura andando sozinha, fato que bloqueia a vontade de seguir adiante as aventuras como jornalista.

Já passei alguns momentos de achar que não teria saída! Motorista de minibus trocando caminho e enrolando no papo; homens querendo tirar fotos a todo custo junto com brasileira; artista local que não gostou que tirasse foto do ambiente de trabalho e ameaçou cortar meus dedos se continuasse (salva pela polícia); homens passando informação errada de um lado para outro; etc. Na busca por algo diferente, a dificuldade de conhecer sozinha as áreas separadas antes do Apartheid (negros, brancos e “coloured age”). É impossível disfarçar o físico, assim, é como se estivesse sempre refém das situações.

De qualquer maneira, é fascinante observar o mix de culturas mesmo sendo espectador. Se tem algo que aprendi nesta experiência, é a capacidade para desenvolver a comunicação sensorial. Não precisa falar o idioma para sentir no cotidiano os resquícios de um sistema político desumano, enxergar a discriminação racial, ouvir a riqueza da diversidade de línguas, provar a comida simples que milhões de pessoas na miséria se alimentam e, principalmente, ter o contato físico proporcionando um sorriso em uma pessoa. Não tem preço o feedback de um sentimento externado! Assim, se aprende em tudo que se faz, ganhando algo a mais em todos os momentos.

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