quarta-feira, 16 de abril de 2008




Cartas de Estocolmo
O Brasil na imprensa sueca
Por Sandra Paulsen

A imagem do Brasil na imprensa sueca de hoje me deixa triste.
Digo isso porque acabo de assistir, na televisão, a um programa sobre as condições de trabalho nos campos de cana-de-açúcar em São Paulo e no Nordeste, com o título: “Eles se matam pelo nosso etanol”.
Uma viúva conta sobre suas condições de vida depois que seu marido faleceu, após um dia cortando 17 toneladas de cana. Um trabalhador descreve o dia-a-dia na lavoura e uma religiosa apresenta a lista de mais de 20 cortadores falecidos nos últimos três anos, no Estado de São Paulo. A maior parte deles de infarto e esgotamento.
A repórter também entrevista menores, de 13 e 15 anos, que trabalham no corte da cana. Depois, telefona para a empresa que, é claro, nega a contratação de menores. Fica confirmado, assim, que a legislação não é seguida e que os menores trabalham clandestinamente.
No programa, vemos também o ministro sueco da agricultura sendo entrevistado e inquirido se continuará a comprar etanol importado do Brasil para abastecer seu veículo.
O acordo assinado quando da visita do Presidente Lula a Estocolmo, no último outono, também é trazido à discussão. O ministro é perguntado por que razão o governo sueco não discutiu, no momento da assinatura do acordo, as condições de trabalho dos cortadores de cana.
Ao mesmo tempo, os jornais publicam reportagens como a que tenho à minha frente, sob o título: “Mosquitos espalham morte no Rio”. O repórter destaca a morte de 80 pessoas, metade das quais crianças.
O fato é que a imagem de nosso país, aqui, hoje em dia, está ligada à violência nas ruas, ao turismo sexual (que já foi assunto de um texto anterior), às enchentes no Nordeste, à dengue, ao etanol e ao eterno futebol.
Apesar de gozarmos da simpatia sueca, principalmente no que diz respeito ao futebol, as notícias negativas se multiplicam, agora com o etanol como protagonista.
Para piorar a história toda, a foto que recebeu o prêmio de “fotografia do ano” mostra o que os suecos intitulam “catástrofe ambiental”. Para conferir, é só clicar aqui.
Fico desanimada.
Mas tomara que tudo isso seja apenas um lado da verdade. E que meu país de muitas faces possa me mostrar seu lado bom na próxima visita.
O problema todo é que a gente não sabe se a saudade é de um país que existe de fato ou de uma idealização que não resiste ao confronto com a realidade.
A conferir.

Sandra Paulsen, casada, mãe de dois filhos, é baiana de Itabuna. Fez mestrado em Economia na UnB. Morou em Santiago do Chile nos anos 90. Vive há quase uma década em Estocolmo, onde concluiu doutorado em Economia Ambiental.




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